A tentativa de homicídio contra uma professora da rede pública municipal de Caxias do Sul, na semana passada, não pode ser matéria para manifestações momentâneas, rapidamente superadas pelas manchetes seguintes. Trata-se de um contexto, onde se expande o culto à violência, e de uma realidade educacional atacada nas suas estruturas e na sua função precípua: ser agente de transformação.
A ofensiva do governo Trump, nos EUA, contra universidades americanas, é ilustrativa desse contexto: asfixiar, economicamente, as instituições para inibir manifestações de solidariedade ao povo palestino e desconstituir as chamadas políticas DEI (diversity, equality, inclusion). No Brasil, além dos cortes orçamentários, o governo anterior patrocinou a campanha “Escola sem Partido”, traduzida por Gaudêncio Frigotto como “Lei da Mordaça” (*). Mesmo sem aprovação da lei, essa lógica continua a ser alimentada, contraditoriamente, por agremiações de uma espécie de “Bíblia com partido”.
Essas políticas de esvaziamento da capacidade de formação do pensamento crítico e autônomo são reforçadas pela entrega da orientação pedagógica de escolas públicas a institutos e fundações privadas ligadas ao capitalismo neoliberal e seus valores (em muitos casos, já contaminados por premissas fascistas). Essa lógica desautoriza as escolas, suas direções, professores/as e funcionários/as, junto estudantes e comunidades escolares, a propor uma escola orientada por valores humanos e coletivos.
Ao mesmo tempo, crianças e adolescentes são diariamente expostas a fenômenos como o “cyberbullying” e situações de violência de gênero, de raça e de orientação sexual (importante, por esse motivo e pela dificuldade de concentração dos estudantes, o acerto da política sobre restrição do uso de celulares nas escolas). Isso, evidentemente, não justifica nem desresponsabiliza os autores da agressão e da tentativa de homicídio.
Se nenhum lugar deve ser palco de violência, a escola está em primeiro na relação dos espaços a serem preservados. Por isso, não apenas a comunidade de Caxias do Sul, mas a sociedade brasileira contraiu uma dívida com a professora Thaís. Deve-lhe desculpas, solidariedade e compromisso nas lutas contra a violência.
Juçara Dutra Vieira
Presidenta do PT / RS
(*) FRIGOTTO, Gaudêncio. Escola sem Partido: imposição da mordaça a educadores. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/e-mosaicos/article/view/24722/17673
