A polêmica envolvendo a taxa de juros não é meramente conjuntural. Trata-se de visões distintas sobre projeto de desenvolvimento sustentável. De um lado, a ideia de total subordinação das políticas públicas às políticas econômicas. E não a quaisquer políticas, como as que organizam um sistema de poupança para o país, as que estimulam a indústria e a geração de empregos, as que concorrem para o crescimento com distribuição de renda.
A disputa em curso tem por objeto o rentismo, os interesses corporativos que sustentam o capitalismo neoliberal. Não é à-toa que a semântica humaniza o mercado: amanhece “nervoso”, tem “sobressaltos”, fica “agitado”, “inquieto” etc. De outro lado, as pessoas são “clientes” de lojas e bancos, “pacientes” no sistema de saúde, “usuárias” do transporte coletivo, “servidoras” no serviço público, entre outras caracterizações.
Num país com imensas desigualdades, atingido por catástrofes como a que vivenciamos no Rio Grande do Sul e no Pantanal, os governos precisam atentar para o bom funcionamento da esfera pública em todas as suas dimensões. Especialmente para as pessoas. Estas, sim, com motivos de sobra para ficarem preocupadas, nervosas e, inclusive, doentes. Aliás, é para as pessoas que o Estado existe.
Juçara Dutra Vieira
Presidenta do PT / RS
